Língua, Preconceito, Exclusão Social e Desenvolvimento no Mundo Lusófono
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Língua, Preconceito, Exclusão Social e Desenvolvimento no Mundo Lusófono-
Website: https://preconceitolinguistico.group.shef.ac.uk/144-2/
A língua portuguesa falada em Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambique e Timor-Leste se caracteriza linguisticamente pela passagem por um processo de formação de novas variantes e variedades devido à sua complexa história, seu contato com outras línguas e sua aquisição como língua segunda (L2) por falantes não nativos. Nos processos de variação e de mudança linguísticas hánecessidade de criação de um programa claro e definido de política linguística com o fim de descrever e codificar as novas características linguísticas assim como lidar com as ideologias e crenças de linguagem. Nenhum programa rigoroso existe nesses países e o resultado é o preconceito e discriminação linguística; as mudanças naturais das línguas produzidas pelos falantes nativos são consideradas erradamente como aberrações da linguagem e são altamente estigmatizadas. Nesses países, essas formas não padronizadas são faladas pela maioria da população que tem o português como língua do cotidiana e o preconceito linguístico que enfrentam pode resultar em problemas de instrução na língua padrão, no envolvimento de indivíduos com o sistema educacional e com a classe dirigente e, no caso de Moçambique e Angola, a aceitação nacional da língua. Esses fatores acabam tendo efeitos negativos no desenvolvimento social e econômico dos países. No ranking de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para 2016 (Sachs, Schmidt-Traub, Kroll, Durand-Delacre, & Teksoz, 2016) todas as nações modernas do antigo império português, com exceção de Portugal (24/187), estão classificadas em baixas posições. Políticas linguísticas malsucedidas foram identificadas (Spolsky 2018) como razões para o baixo nível de desenvolvimento nesses países, já que problemas econômicos e políticos impediram que eles prestassem a devida atenção à situação linguística.
No contexto africano, o papel das línguas africanas deve desempenhar um papel central em qualquer teorização das políticas linguísticas, especialmente na educação, já que o português é falado apenas como primeira língua por 40% da população de Angola (ethonlogue) e 10,7% da população em Moçambique (Gonçalves 2015: 9) apesar de o Português ser a língua de ensino em todos os níveis dos sistemas educativos. De facto, embora tenha havido avanços na introdução de programas de educação bilíngüe em algumas áreas de ambos os países (Manuel, 2015), existem altos níveis de taxas de analfabetismo em ambos os países (54,2% em Moçambique (2005-2010) e 58,3% em Angola (Malik, 2013, p. 173-179). Timbane (2015: 100) chama a atenção para as taxas de abandono escolar em Moçambique, que nas regiões em que o português não é falado pode atingir níveis de 64,6%. Uma política linguística inadequada é mais uma vez identificada (idem) como um dos principais contribuintes tanto nas taxas de evasão escolar quanto nas taxas de analfabetismo. A língua usada para ensinar crianças não é uma língua nativa delas. De fato, na África há um debate acadêmico e político em curso sobre a falta de avanço socioeconômico que é um produto da diversidade linguística e o uso de línguas ex-coloniais como línguas oficiais ou ainda, o avanço econômico e a construção de uma identidade nacional podem ser alcançadas através de uma política linguística que, em vez de depender de preconceitos linguísticos, seja sensível aos papéis simbólicos e comunicativos desempenhados pelas diferentes línguas e procura evidenciar os valores sentimentais e instrumentais associados às diferentes línguas (Firmino, 2015 ).
O Português, no entanto, continua sendo a única língua oficial de Angola e de Moçambique, a principal língua da educação, da política e da administração e a língua que é importante para o emprego e sucesso econômico (Gonçalves, 2001). No entanto, o modelo desta língua oficial baseia-se na norma portuguesa e não na forma como a língua é utilizada nos respectivos países, o que coloca uma série de problemas sociais no desenvolvimento, especialmente no contexto da educação, já que os professores não só têm de ensinar o padrão europeu para os estudantes de L2, mastambém têm que ensinar uma variedade de português que podem não dominar completamente e que não é nativa para muitos falantes (Robate, 2006). Desse modo, a situação é comparável ao Brasil, já que o sistema educacional ensina uma variedade da língua que é estranha à maioria dos estudantes (Perini 2003) e a falta de consciência ou política em relação ao preconceito lingüístico foi identificada como um possível problema de desenvolvimento, contribuindo talvezpara as taxas de abandono escolar (O'Neill & Massini-Cagliari, 2019).
Este evento, focado no mundo lusófono, é um evento satélite de um workshop sobre Língua, Preconceito, Exclusão Social e Desenvolvimento - para detalhes sobre o programa em inglês veja https://www.eventbrite.co.uk/e/language-prejudice-social-exclusion-and-development-tickets-62853560692
Programme
Venue – Jessop Building 117 (registration and lunches in Jessop West foyer)
10.00-10.30
REGISTRATION
10.30-11.15
Língua, Preconceito, Exclusão Social e Desenvolvimento no Mundo Lusófono
INTRODUCTORY REMARKS – Paul O’Neill (Univeristy of Sheffield)
11.15-12.00
Educação para a cidadania no Moçambique pós-colonial
Feliciano Salvador Chimbutane
(Universidade Eduardo Mondlane, Mozambique
12.00-12.45
A influencia da política linguística nas desigualdades sociais em moçambique : opressão, exclusão e preconceito linguístico Alexandre António Timbane
(Universidade de Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, Malês, Brazil)
12.45-13.30
Construindo uma linguagem comum: colaboração portuguesa, brasileira e timorense na reintrodução do português em Timor-Leste
Alan Carneiro
(Universidade Federal de São Paulo)
13.30-14.30
LUNCH
14.30-15.15
Elementos da norma do Português culto de Angola: Fonologia, Sintaxe e Vocabulário.
Estudos feitos através de análise de corpus
Márcio Edu da Silva Undolo, Professor Associado da Escola Superior Pedagógica do Bengo, Angola e PhD pela Universidade de Évora
15.15-16.00
Language and education in post-colonial settings: Reflections on mother tongue education initiatives in Cape Verde
Nicola Bermingham
(University of Liverpool)
16.00-16.45
Diversidade linguistica e ensino de Língua Portuguesa: tensões e possibilidades
Gilcinei Carvalho
(Univesidade Federal de Minas Gerais, Brazil)
16.45-17.30
TBC
17.30-18.30
WINE RECEPTION (TBC)
18.30
CONFERENCE MEAL